O hexa é incerto, mas a vergonha...

Ricardo Ribeiro
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Perdoem-me, mas não sou contra a Copa. Faço parte do grupo (majoritário, com certeza) dos brasileiros que vibraram quando o país foi escolhido há sete anos para receber este evento. Por isso, seria incoerência hoje engrossar o coro dos que gritam “não vai ter Copa”, mas não se engane: apoio integralmente as críticas à forma como essa tal “Copa das Copas” foi construída.

Em 2007, falava-se em obras de mobilidade, revitalização das cidades-sede, ampliação de aeroportos… Prometiam-se melhorias há muito devidas por gestores inadimplentes e que agora seriam realizadas. Afinal, eram contrapartidas exigidas pela poderosa Fifa para que o Brasil sediasse o mundial.

Não alimentei ilusões de que seria uma Copa “enxuta”. Dada a nossa funesta supremacia na modalidade rapinagem, na qual somos mais que pentacampeões, tinha certeza de que seria um evento caro, mastodôntico e hiperbolizado. É raríssimo no Brasil ocorrer um investimento com dinheiro público sem uma válvula de escape para os famigerados desvios. Com Copa ou sem Copa! Ainda assim, acreditei que, ao final, teríamos o tal legado que anunciavam.

Desfeitas as melhores expectativas e sem ter concretizado quase nada do que foi prometido, o Brasil tem passado constrangimento. Mas talvez tenhamos realmente que encarar essa vergonha de realizar a “Copa (mais cara e bagunçada) das Copas”.

Quem sabe o vexame não produza mudanças e de repente o país acorde para o fato de que é impossível continuar a viver na base da maracutaia de uns e do deixa pra lá de outros. Não se trata de um governo, é bom que se diga, mas de velhos costumes que precisam ser eliminados. Ou o Brasil seguirá seu caminho de arremedo de país onde a maioria gargalha de si mesma por pura demência, enquanto uma minoria ri de cinismo e escárnio. E ainda têm o desplante de chamar isso de alegria.

Há alguns dias, um experiente jornalista esportivo visitou a Arena das Dunas, em Natal. O estádio é lindo, moderno, grandioso. Mas, ao redor, obras inacabadas, entulho pra todo lado, confusão imensa no trânsito… Um monumento em meio ao caos. Isso sem falar na questionável utilidade futura de tal obra, forte candidata a virar um belo e robusto elefante branco.

Comemorei a escolha do Brasil para sede da Copa e, como a razão às vezes nos foge, dificilmente torceria contra a seleção canarinho. Admito que, na hora do gol, será impossível deixar de festejar, mas a tristeza é saber que, ainda que porventura conquistemos o ambicionado hexa, outro jogo, muito mais importante e decisivo para o país, já está perdido.

O autor Ricardo Ribeiro é advogado e editor do BA24Horas.